terça-feira, 17 de maio de 2011

Etnografia do velório - Parte Final "sutil" até na morte


Nos velórios tradicionais onde o defunto pertence a uma comunidade é está em dia com sua contribuição anual a mesma, o velório tem teoricamente a função de cumprir o sagrado dever de solidariedade, oferecendo conforto à família enlutada.

Analisando o ambiente do velório percebo que se trata muito mais de um ato de socialização do que de conforto espiritual, ou seja, mais uma presença física em função de costumes e assim ignorando o sentimento e compostura espiritual. Fato este é evidenciado em função do barulho na sala onde se realiza o velório. Barulho este formado por grupos de conversa onde os assuntos são variados, desde fatos do cotidiano, quanto a um resumo da vida do defunto (muitas vezes tentando desqualificar o mesmo), como também a causa da morte.

O velório que em tese está ligado a um sentimento de profunda tristeza, nesta análise se caracterizou como uma reunião social, onde velhos amigos se reencontram, como o ensejo de conversar. Durante o dia o velório é freqüentado em sua maioria por senhoras idosas e aposentados, ao meio dia por pessoas que aproveitam a folga referente ao horário de almoço no trabalho para cumprir sua obrigação social. Já à noite o velório e freqüentado por casais, onde após visita ao caixão o homem tende a dirigir-se para fora do recinto para encontrar outros indivíduos do sexo masculino, enquanto as mulheres sentam-se em grupos no próprio recinto, com o intuito de conversar.

Os homens tendem a contar piadas, falar de futebol e mulheres. Já as mulheres tendem a falar sobre as vestimentas, alguma fofoca ou ganho de peso das demais. Fato é que ninguém se dá ao trabalho sequer de reduzir o volume da voz, principalmente ao aproximar-se o horário do sepultamento, quando o recinto acolhe maior número de pessoas.

Ao aproximar-se o sepultamento é tradição o pastor ou padre realizar uma homenagem ao falecido, sendo que a duração desta está diretamente ligada ao status que o falecido apresenta perante a cidade. Durante o discurso são elencados os feitos e contribuições do mesmo em relação à comunidade, como também citados os nomes dos familiares enlutados. Na cerimônia o falecido é lembrado com palavras elogiosas, já que as reminiscências e aspectos negativos de seu comportamento já foram devidamente debatidos pela comunidade com chistes e fofocas durante o velório, fato este anteriormente citado. Durante esta celebração são entoadas canções por parte do coral da cidade. Coral este que cobra uma anuidade, caso contrário não haverá coro na cerimônia.

O número de pessoas que freqüenta o velório é usado como indicador da popularidade do falecido, sendo este fato comentado no dia posterior ao velório. Fato este ocorrido nos dois velórios observados onde em um comentou-se: "Que velório bonito! Quanta gente!", já no outro referente a um individuo menos conhecido o comentário foi "Que tristeza! Velório vazio” Fato que me surpreendeu foi de um comentário de uma senhora referente às lágrimas derramadas pelo viúvo, sendo que esta as considerou insuficientes e também o modelo do caixão, o qual caracterizou como simples demais.

Outros indicadores de popularidade dizem respeito à quantidade de flores depositadas junto ao caixão e o número de coroas que o mesmo recebeu. As coroas geralmente são oferecidas por familiares, empresas e entidades da cidade, tudo de acordo com a popularidade do falecido.

Hábito observado na pesquisa de
campo foi da assinatura de um livro de presença, onde algumas pessoas entrevistadas durante o estudo dizem que é um hábito corriqueiro, outras revelam que familiares do falecido identificam por meio deste , pessoas que não compareceram a cerimônia (velório).

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